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Sonetos de Camões: (136) A fermosura desta fresca serra – Análise do poema.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

No poema A fermosura desta fresca serra, de Luís de Camões, o autor procurou mostrar, como tema, a saudade e a ausência da mulher amada. Conheça o soneto e acompanhe uma pequena análise sobre essa bela composição poética.


Ilustração mostrando o soneto do poeta Luiz Vaz de Camões: A fermosura desta fresca serra.
by Roberto M.
O poema A fermosura desta fresca serra, de Luís Vaz de Camões, faz parte da lírica clássica do autor. Este poema é um soneto, ou seja, tem uma forma fixa de composição poética. É composto de duas estrofes de quatro versos (quartetos ou quadras) e duas estrofes de três versos (tercetos).
Os sonetos de Camões são a parte mais conhecida de sua lírica. Dotado de inegável genialidade, coube a ele a melhor performance do soneto em língua portuguesa.

Quanto à métrica, que é a medida dos versos que compõem o poema, os versos são decassílabos (dez sílabas poéticas), notando-se a predominância dos decassílabos heróicos, nos quais a sexta e a décima sílabas são sempre tônicas.

A fermosura desta fresca serra

(Soneto nº 136)
Luiz Vaz de Camões

A fermosura desta fresca serra,
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos oferece,
me está (se não te vejo) magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
sem ti, perpetuamente estou passando
nas mores alegrias, mor tristeza.

Neste poema, Camões procurou mostrar a necessidade da presença da mulher amada para que a felicidade do sujeito seja possível. Sem amor a vida não tem interesse e o poeta não é capaz de viver a vida sem a amada, não consegue ter alegria.
O soneto divide-se em duas partes lógicas, sendo que a palavra “enfim” caracteriza essa mudança.

Na primeira parte (as duas quadras) acontece a descrição da natureza que circunda o sujeito lírico, descreve-se uma natureza harmoniosa, propícia ao amor.
Existe uma visão objetiva da natureza, descreve-se um ambiente verdejante, fresco, aprazível, capaz de trazer felicidade e alegria a quem nele se inserir.
Essa parte do texto é constituida por uma descrição que, basicamente, se estrutura numa enumeração de elementos que constituem a paisagem

Na segunda parte (os dois tercetos) acontece a total irrelevância da harmonia natural quando a mulher amada não está presente.
O sujeito poético tem um estado de espírito caracterizado pelo desgosto, dor e sofrimento. Está num tal estado de abandono, devido à ausência da mulher amada, que recusa tudo que o está rodeando. A infelicidade e a tristeza não o deixam ver as coisas mais perfeitas da natureza.  Incapaz de afastar a tristeza, vê a natureza com os olhos da alma.
Essa parte do texto constitui uma síntese de tudo o que falou sobre a natureza anteriomente (conclui-se que a natureza é “rara” e dotada de grande “variedade”) e, além disso, o poeta introduz um novo elemento, o “tu”, que vem juntar-se à natureza na terceira pessoa até então dominante. E a presença desse elemento assume papel decisivo na visão da paisagem, ou seja, na ausência da amada tudo o “enoja” e “aborrece”.

Na primeira parte, a descrição tendia para uma objetividade (natureza, 3ª pessoa), já na segunda parte,com a introdução das 1ª e 2ª pessoas do singular, o texto assume um certo dramatismo e uma grande subjetividade (relação “eu – tu – natureza”).

Por fim, podemos observar, no poema:
- o uso de anáfora (uma figura de linguagem caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos): “Sem ti …/ Sem ti…” onde o poeta expressa sua mágoa.
- o uso de hipérbole (uma figura de linguagem  que consiste em exagerar uma ideia com finalidade expressiva. É um exagero intencional na expressão): “perpetuamente estou passando, / Nas mores alegrias, mor tristeza” onde o poeta expressa toda a sua dor.
- o uso de antítese (uma figura de linguagem que consiste na exposição de ideias opostas. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos): “Nas mores alegrias, mor tristeza” onde o poeta expressa toda a sua amargura pela ausência da amada.

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