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Memórias de um Sargento de Milícias. Resumo, análise e comentários.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Memórias de um Sargento de Milícias. Romance de Manuel Antonio de Almeida. Classificada como obra romântica, foge a este estilo. Nem tampouco é realista. É romance picaresco. Veja resumo e análise dessa obra.


Livro Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antonio de Almeida. Resumo e análise.
by Roberto M.
O livro, Memórias de um Sargento de Milícias, escrito por Manuel Antonio de Almeida, é uma obra classificada como romântica, mas apesar disso, ela pode ser considerada como uma obra ímpar dentro do romantismo, pois seus traços ultrapassam os padrões estabelecidos para tal estilo.
O romantismo foi um dos mais importantes movimentos literários do ocidente, e, particularmente no Brasil, entre 1836 e 1881, significou uma etapa decisiva de nossa literatura.

As características principais do estilo romântico eram o subjetivismo, o predomínio da emoção e do sentimento, idealismo, imaginação e sonho, fantasia, fuga da realidade, valorização da natureza, religiosidade, liberalismo, nacionalismo.

Memórias de um Sargento de Milícias, entretanto, apresenta características próprias; foge ao estilo romântico. Não atende também, às propostas do estilo realista, pois não tem crítica, nem denúncia social, nem análise psicológica. Muitos o entendem como um romance picaresco, ou seja, a narrativa das peripécias de um pícaro (personagem malandro, ardiloso, aproveitadoe e pobretão esperto).

CARACTERÍSTICAS DA OBRA

O romance é, portanto, de transição, vejamos algumas de suas características:
- Não envolve personagens da classe dominante e sim de baixa renda; gente humilde e trabalhadora com suas malícias e crendices, fofocas e beatices, modos e costumes.
- Tem um enredo fragmentado que mostra a realidade, a originalidade e o folclore nacional.
- O protagonista não é herói nem vilão, é um anti-herói. É malandro, vadio, esperto e mentiroso; às vezes cômico.
- Os personagens não são idealizados e sim antiéticos (bem e mal).
- A história tem humorismo ao invés de sentimentalismo. Tem a presença da ironia e do ridículo
- Tem estilo oral e descontraído.
- Não tem um final feliz definido.

PERSONAGENS

Os personagens são tipos populares dos subúrbios do Rio de Janeiro. Vários não possuem nomes, sendo personalizados pela função que exercem na comunidade.
Diferente dos personagens românticos, nessa obra eles não são idealizados, estando mais próximos do Realismo.
1) Leonardo: protagonista da história; peralta, malandro, vadio, vingativo e gostava de pregar peças. Era um anti-herói.
2) Leonardo Pataca: pai do protagonista. Era comerciante de roupas em Portugal e, no Brasil, oficial de justiça. Mulherengo, espertalhão e interesseiro.
3) Maria Hortaliça: mãe de Leonardo. Era verdureira em Portugal. Mulher infiel, foge com o capitão de um navio.
4) Comadre: madrinha de Leonardo, parteira e benzedeira.
5) Compadre: padrinho de Leonardo. Barbeiro que ganhou dinheiro de forma desonesta. Protege e mima o afilhado.
6) Luisinha: sobrinha de D. Maria, rica, casa-se com José Manuel e depois com Leonardo.
7) D. Maria: tem mania de ações judiciais, é tutora da sobrinha Luisinha.
8) Vidinha: mulata, jovem de 18 ou 19 anos que toca e canta modinhas. Leonardo apaixona-se por ela.
9) Major Vidigal: personagem histórico; autoridade policial, causa temor e respeito.
10) Tomás: sacristão e amigo de Leonardo.
11) Chiquinha: sobrinha da comadre que se casa com Pataca.
12) Outros personagens: Vizinha, José Manuel, Maria Regalata, Teotônio, Chico-Juca, Toma-Largura.

ENREDO

Cap. I
“Era no tempo do rei”. Assim começa a narrativa que se passa nas primeiras décadas do século XIX, época do rei D. João VI.
Leonardo Pataca, aborrecido com seu comercio de roupas em Lisboa, resolve vir para o Brasil tentar a sorte.
No mesmo navio viaja Maria Hortaliça.
Pataca, fingindo-se distraído, dá uma pisadela no pé de Maria, que se fingindo envergonhada lhe dá um beliscão nas costas da mão esquerda.
Enamoram-se. Ao anoitecer, outra pisadela e um beliscão, desta vez com mais calor.
No dia seguinte, pareciam velhos amantes.
Ao desembarcarem foram morar juntos e sete meses depois nasce Leonardo.
Leonardo foi batizado pela comadre parteira e pelo compadre barbeiro.

Cap. II, III e IV
Pataca volta mais cedo para casa e descobre que a mulher o traía.
Pataca dá uma surra em Maria. Leonardo rasga documentos de Pataca.
O pai, enfurecido, dá um pontapé no filho e esbraveja ser o pequeno “filho de uma pisadela e um beliscão”.
Maria Hortaliça aproveita a confusão, abandona a família e volta para Portugal.
O padrinho, homem velho e solitário, passa a cuidar do menino, mimando-o demais. Sempre benevolente com as malandragens do afilhado.
Acreditando fazer do menino um homem de bem, decide que Leonardo será padre.
Pataca apaixona-se por uma cigana, que também infiel o abandona. Ele procura um feiticeiro para reconquistá-la, mas durante a cerimônia, à meia noite, aparece o temido Major Vidigal e o prende por vadiagem.

Cap. V, VI e VII
O Major Vidigal, temido por suas sentenças sem apelação, castiga os presentes na casa do feiticeiro fazendo-os dançar até não aguentarem mais e chicoteando-os.
Leonardo revela-se amigo da folia e da malandragem. Acompanha uma procissão e acaba passando a noite num acampamento de ciganos.
Descrição da comadre: mulher baixa, gorda, ingênua às vezes, esperta outras. Parteira, benzedeira, gosta de ir à missa e de ouvir fofocas das beatas.

Cap. VIII, IX e X
A comadre procura um tenente-coronel, velho oficial, para libertar Pataca.
O barbeiro, quando rapaz, abandonou a família sem remorsos ou escrúpulos. A bordo de um navio, vindo para o Brasil, o capitão moribundo que nutria amizade e confiança pelo barbeiro, confiou-lhe suas economias para que fossem entregues à sua filha. Porém, o compadre ficou com todo o dinheiro e nunca procurou a filha do capitão.
O tal tenente-coronel conhecia Maria Hortaliça, seu filho a havia desvirginado em Lisboa e ele comprara o silencio da família. Ao saber que Pataca havia sido marido da moça, ajudou-o a sair da prisão.

Cap. XI, XII e XIII
Leonardo aprende a ler com lentidão e demonstra não ter vocação para as coisas da igreja.
Leonardo é castigado na escola, com a palmatória, por causa de suas estripulias. Vive fugindo da escola, até abandoná-la.
O padrinho convence o afilhado a voltar para a escola, mas ele sempre foge. Em uma dessas fugas faz amizade com um coroinha. Como caminho para suas traquinagens, ele também quer ser coroinha. O barbeiro sente-se realizado.
Numa das missas, junto com o colega sacristão, joga fumaça de incenso na cara da vizinha.

Cap. XIV, XV e XVI
A vizinha faz queixa para o padre que repreende os dois coroinhas. Leonardo se vinga do padre dando uma informação errada sobre a hora do sermão. O padre, que mantinha relações com a cigana que abandonara Pataca, chega atrasado e fica furioso. O sacristão é despedido.
Pataca descobre que o padre roubara-lhe a cigana e que no dia do aniversário dela estaria lá no acampamento. Contrata Chico-Juca para fazer confusão na festa. Pataca avisa o Major Vidigal sobre a festa e ele aparece bem na hora da confusão e prende todo mundo, inclusive o padre, que estava escondido no quarto.
Humilhado com a prisão, o padre abandona a cigana. Pataca reconquista a antiga amante e passam a viver juntos. A comadre o censura por isso.

Cap. XVII e XVIII
No dia da procissão dos Ourives, o compadre, a comadre, o afilhado e a vizinha se encontram na casa de D. Maria, que tinha mania de ações judiciais.
Conversam sobre as peraltices do menino, que pisa na saia da vizinha, rasgando-a. D. Maria sugere que o menino seja procurador de causas.
Leonardo não atendeu aos desejos do padrinho e se transforma em um completo vadio. Nada faz e nada pensa.
Pataca casa-se com Chiquinha, uma sobrinha da comadre.
D. Maria ganha a demanda de tutora de uma sobrinha, herdeira de algum dinheiro, chamada Luisinha.
O compadre e o afilhado vão visitar D. Maria com frequência. Leonardo ri da Luisinha desajeitada, mas não consegue esquecê-la.

Cap. XIX, XX, XXI, XXII e XXIII
Leonardo apaixona-se por Luisinha e tornam-se íntimos após a Festa do Divino.
Aparece José Manuel, um pretendente espertalhão interessado na herança de Luisinha.
O compadre e a comadre unem-se para ajudar Leonardo contra seu rival. Eles têm medo de que D. Maria, com toda razão, recuse a sobrinha a um rapaz vadio e sem futuro.
Leonardo consegue declarar-se a Luisinha, depois de várias tentativas e muito sem jeito.

Cap. XXIV, XXV, XXVI e XXVII
Nasce a filha de Pataca e Chiquinha. A comadre faz o parto da sobrinha.
A comadre gozava de grande reputação. Abusando de sua credibilidade, fala para D. Maria que José Manuel havia se envolvido no caso da fuga de uma moça da porta da igreja, colocando-o como suspeito de um caso policial.
José Manuel encarrega o padre de descobrir quem é seu adversário e quem fez a intriga junto a D. Maria.

Cap. XXVIII e XXIX
Morre o barbeiro. Pataca aparece para tomar conta do filho e se apodera da herança que o padrinho havia deixado para Leonardo. A comadre também vai morar na casa de Pataca para ficar mais perto da sobrinha e dar amor ao Leonardo.
Chiquinha e Leonardo brigam muito. Pataca e a comadre passam a fazer papel de conciliadores.
Leonardo chega nervoso por não ter visto Luisinha e briga com Chiquinha. Pataca toma as dores da mulher e novamente expulsa o filho de casa.

Cap. XXX e XXXI
Leonardo sai de casa andando sem destino. Cansado, senta-se em uma pedra pensando em Luisinha. Houve rumores e encontra o antigo colega sacristão fazendo piquenique com um grupo de jovens. Conhece Vidinha, prima do amigo, mulata de 18 ou 20 anos e se apaixona por ela. Leonardo começa a viver na casa deles. Duas viúvas, uma com três filhos e outra com três filhas.
Leonardo tem rivais na família onde vive. É uma família onde primos têm interesse nas primas.

Cap. XXXII, XXXIII e XXXIV
A comadre procura Leonardo sem achá-lo. Ela vai à casa de D. Maria que a repreende, após ter descoberto a intriga contra José Manuel.
Dois primos de Vidinha se unem contra Leonardo, mas ele tem Vidinha e as velhas a seu favor. Após muitas brigas e confusões ele decide sair da casa, mas as velhas não consentem. A comadre o encontra.
Leonardo, após muita conversa, resolve continuar com a família. Os primos vencidos decidem vingar-se. Fazem uma algazarra, avisam o Major Vidigal, que chega e prende Leonardo.

Cap. XXXV, XXXVI e XXXVII
José Manuel casa-se com Luisinha após ganhar uma causa para D. Maria. Luisinha aceita o novo pretendente, com indiferença, já que Leonardo havia se esquecido dela.
Leonardo escapa do Major, aproveitando um tumulto de rua, e volta para a casa de Vidinha. O Major não o encontra.
O Major, humilhado perante seus subordinados, jura vingança. A comadre, acreditando que o afilhado estivesse preso, procura Vidigal e suplica para que ele solte Leonardo. O Major lhe conta da fuga. Ela fica aliviada e Vidigal é novamente motivo de escárnio.

Cap. XXXVIII e XXXIX
A comadre procura Leonardo na casa de Vidinha e após pregar-lhe um sermão, exige que ele abandone a vadiagem. Ela consegue um emprego para ele na dispensa real.
No serviço, Leonardo conhece um casal, se interessa pela moça e vai esquecendo Vidinha.
Toma-Largura, o marido da moça, descobre e corre atrás dele. Leonardo é despedido do emprego.
Vidinha descobre tudo e, com ciúmes, vai tirar satisfações com a mulher de Toma-Largura. Leonardo vai atrás dela, encontra Vidigal e acaba preso.

Cap. XL, XLI, XLII e XLIII
Vidinha ofende o casal, que não reage. Toma-Largura se encanta com vidinha e resolve conquistá-la.
Toma-Largura ronda a cãs de vidinha e cai numa armadilha. Convidado para uma festa, bebe e provoca confusão. O major chega e pede a um de seus subordinados que prenda Toma-Largura.
Este subordinado é Leonardo, que se tornara auxiliar de Vidigal.
A vingança do major quando prendeu Leonardo foi transformá-lo em policial e requisitá-lo para ajudar nas tarefas.
Leonardo recebe a missão de prender Teotônio, numa festa. Simpatiza-se com ele e o ajuda a fugir.

Cap. XLIV, XLV, XLVI e XLVII
Um amigo o cumprimenta pela façanha na frente do Major, que prende Leonardo imediatamente.
Depois da lua-de-mel, José Manuel começa a mostrar que não é grande coisa. A comadre e D. Maria se unem para soltar Leonardo.
D. Maria procura Maria Regalada, antiga conhecida do Major, e pede para que ela interceda a favor de Leonardo. Regalada procura o Major, cochicha algo em seu ouvido. Este promete soltar Leonardo.
José Manuel morre de um ataque cardíaco. Leonardo é libertado e visita Luisinha.

Cap. XLVIII
Terminado o luto, Leonardo e Luisinha recomeçam o namoro. Querem se casar, mas precisam do consentimento do major porque granadeiro não pode se casar. Procuram Vidigal que estava vivendo com Maria Regalada (este foi o preço da liberdade de Leonardo). O Major consegue baixa de Leonardo da tropa de linha para sargento de milícias.
Pataca devolve a herança que o padrinho deixou para o filho.
Leonardo e Luisinha se casam.
A narrativa termina sem dar por acabada a história: “Daqui em diante aparece o reverso da medalha... acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto final”.

COMENTÁRIO FINAL

Diferente do que faz supor o título “Memórias”, o romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente e intruso, que a todo o momento interfere para analisar fatos, dar explicações e conversar com o leitor.
A palavra “memórias”, nesse caso, equivale a anotações históricas, pois descreve cenas e costumes de época passada.
Memórias de um Sargento de Milícias foi publicado em folhetim, sob o pseudônimo de “O brasileiro”, entre os anos de 1854 e 1855, no suplemento “A Pacotilha” do Jornal Correio Mercantil, importante órgão de imprensa da época.
Bibliografia: Almeida, Manuel Antonio de – Memórias de um Sargento de Milícias – Editora Objetivo – São Paulo – 1996.

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