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Sonetos de Camões: (5) Amor é um fogo que arde sem se ver – Análise do poema.

terça-feira, 26 de julho de 2016

No poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões, o autor procurou conceituar a natureza contraditória do amor. Conheça o soneto e acompanhe uma pequena análise sobre essa bela composição poética.


Ilustração mostrando o soneto número 5 de Luiz Vaz de Camões: Amor é um fogo que arde sem se ver.
by Roberto M.
Lírica, do latim lyrĭcus, é um gênero literário no qual o autor exprime os seus sentimentos e propõe-se a despertar sentimentos análogos ao leitor ou ouvinte.
A poesia lírica expressa sentimentos de um eu-lírico, que não se confunde com a pessoa do poeta. 
Há, neste caso, a expressão da subjetividade íntima do eu-poético, de um sentimento amoroso ou de qualquer outro tipo de sentimento.

Camões é o maior poeta lírico do Classicismo português. Os sonetos de Camões são a parte mais conhecida de sua lírica. O poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões, faz parte da lírica clássica do autor.

Este poema é um soneto, ou seja, tem uma forma fixa de composição poética. É composto de duas estrofes de quatro versos (quartetos ou quadras) e duas estrofes de três versos (tercetos).

Quanto à métrica, que é a medida dos versos que compõem o poema, os versos são decassílabos (dez sílabas poéticas), notando-se a predominância dos decassílabos heroicos, nos quais a sexta e a décima sílabas são sempre tônicas.

Amor é um fogo que arde sem se ver

(Soneto nº 005)
Luiz Vaz de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Neste poema, Camões procurou conceituar a natureza contraditória do amor. Ele tenta, em vão, conceituar o Amor; mas só consegue demonstrar que qualquer tentativa semelhante, ao final, levará ao ponto de partida.
O tratamento dado ao tema, no soneto, é visivelmente ligado ao sentimento humano entre um homem e uma mulher, o amor romântico, seja ele correspondido ou não.

Este soneto é uma definição poética do amor. Como se Camões quisesse definir este sentimento indefinível e explicar o inexplicável, colocando imensos contrastes para caracteriza-lo 
O poeta buscou analisar o sentimento amoroso racionalmente, por meio de uma operação de fundo intelectual, racional, valendo-se de raciocínios próximos da lógica formal.
Para Camões, o Amor (com A maiúscula) é um tipo de ideal superior, perfeito e único, pelo qual há o anseio de atingi-lo, mas como o amor é um sentimento vago, imensurável, Camões acabou por concluir pela ineficácia de sua análise, desembocando no paradoxo do último verso.

O aspecto material, sensível, “ferida que dói”,  é oposto ao espiritual “e não se sente”, como de resto pode-se observar ao longo de todo o soneto, culminando com a indagação final, que traduz toda a perplexidade diante da total impossibilidade de se compreender o próprio amor.
O sentir e o pensar são movimentos antagônicos: o sentir deseja e o pensar limita, e, como o poeta não podia separar aquilo que sentia daquilo que pensava, o resultado, na prática textual, só podia ser o acúmulo de contradições e paradoxos.

Ao conceituar a natureza paradoxal do amor, o soneto ressalta em enunciados antitéticos (ambíguos, antagônicos), mas que compõem um todo lógico, o caráter paradoxal do sentimento amoroso. Mas, por vezes,  tais contradições são aparentes, pois, a segunda parte de cada verso funciona como complemento da primeira parte, de modo a enfatizar a afirmação por meio da aproximação de realidades distintas.

Por fim, podemos observar, no poema, uma sucessão de anáforas (uma figura de linguagem caracterizada pela repetição de uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos), uma cadeia anafórica, através da reiteração do verbo ser ("É") no início dos versos (do 2º ao 11º).  Note-se, também, que o soneto inicia-se e termina com a mesma palavra: Amor ; o tal sentimento contraditório, que é o tema da composição poética.
Inspirado em: Amor fogo que arde sem se ver – Passeiweb

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