by Telma M.
Como lidar com crianças? Devemos ou não falar a verdade para as crianças? Devemos ou não demonstrar confiança nelas? O comportamento dos filhos muda de acordo com as atitudes dos pais?
Sou farmacêutica.
Durante minha vida profissional tenho trabalhado em várias farmácias e exercido essa atividade com muito prazer. Aplicar injeções faz parte da minha rotina.
Uma das coisas que aprendi é que a sala de aplicação desperta nos pacientes uma necessidade de falar da própria vida, como se a farmacêutica fosse uma “O.O.P.P.” (Ouvidora Oficial de Problemas Pessoais). Tudo bem para mim, pois eu sou dessas pessoas que gostam mais de ouvir do que falar.
Depois de ouvir tantas histórias, umas tristes outras engraçadas, algumas bonitas, outras antipáticas, adquiri o hábito de escrevê-las numa espécie de diário que guardo com muito carinho na gaveta da mesa de cabeceira.
Outro dia encontrei o diário e li algumas dessas histórias. Uma delas me veio à mente agora, aliás, uma não, duas histórias entrelaçadas sem que as personagens principais tenham jamais se encontrado (pelo menos que eu saiba).
Trata-se de duas crianças, Lucinha e Mirna. Claro que os nomes são fictícios, pois seria muito inconveniente se eu dissesse os nomes verdadeiros, mas o conteúdo é verdadeiro.
Sou farmacêutica.
Durante minha vida profissional tenho trabalhado em várias farmácias e exercido essa atividade com muito prazer. Aplicar injeções faz parte da minha rotina.
Uma das coisas que aprendi é que a sala de aplicação desperta nos pacientes uma necessidade de falar da própria vida, como se a farmacêutica fosse uma “O.O.P.P.” (Ouvidora Oficial de Problemas Pessoais). Tudo bem para mim, pois eu sou dessas pessoas que gostam mais de ouvir do que falar.
Depois de ouvir tantas histórias, umas tristes outras engraçadas, algumas bonitas, outras antipáticas, adquiri o hábito de escrevê-las numa espécie de diário que guardo com muito carinho na gaveta da mesa de cabeceira.
Outro dia encontrei o diário e li algumas dessas histórias. Uma delas me veio à mente agora, aliás, uma não, duas histórias entrelaçadas sem que as personagens principais tenham jamais se encontrado (pelo menos que eu saiba).
Trata-se de duas crianças, Lucinha e Mirna. Claro que os nomes são fictícios, pois seria muito inconveniente se eu dissesse os nomes verdadeiros, mas o conteúdo é verdadeiro.
Lucinha e Mirna tinham a mesma idade, cinco anos.
Lucinha chegou primeiro. Ela teve que tomar uma série de oito injeções, dia sim dia não, o que durou dezesseis dias. Depois foi a vez de Mirna iniciar uma série de três injeções semanais, o que durou três semanas.
A mãe de Lucinha entrou primeiro na minha sala de injetáveis e pediu que eu preparasse tudo antes da filha entrar, pois não queria que a menina visse a seringa para não se assustar.
Eu nunca fui partidária da idéia de enganar crianças, mas respeitei a vontade da mãe.
Quando Lucinha entrou na sala a mãe não permitiu que ela visse a seringa e a agulha, virou a menina de costas para que eu aplicasse a injeção no bumbum. A mãe deitou a criança em seu colo e abaixou a calcinha da menina para que eu pudesse fazer meu trabalho. Eu pedi para que a mãe fixasse bem as pernas da menina, afinal eu não queria que acontecesse nenhum acidente com a agulha, que pode se quebrar dentro da pele caso a pessoa se agite.
Eu comecei a conversar com Lucinha explicando que não podia se mexer, que ela sentiria uma pequena picadinha, como uma formiga, mas logo ia passar, blá blá blá. Ela pareceu entender.
Pareceu, mas não entendeu. Quando a agulha penetrou na pele ela gritou e esperneou, fez um berreiro tão desproporcional que todos os outros funcionários da farmácia se agitaram.
Enfim, tudo acabou bem, mas faltavam outras sete aplicações...
A criança saiu da farmácia aos berros no colo da mãe.
Todos conheciam a minha capacidade, sempre tive as mãos muito habilidosas. Nenhum paciente reclamava, pelo contrário, todos me elogiavam dizendo que não sentiam nada durante as aplicações, mas Lucinha fez com que todos os meus colegas duvidassem de mim.
Logo depois que Lucinha saiu, chegou Mirna.
Confesso que fiquei bastante traumatizada, mas os outros farmacêuticos se recusaram aplicar injeção na segunda paciente ainda com o escarcéu da anterior ecoando em nossas mentes, de modo que acabei aceitando a incumbência.
Desta vez eu fiz questão de explicar para Mirna como funcionava o processo. Mostrei a injeção, deixei que ela me visse preparando tudo, contei a ela que poderia doer um pouco, mas que ela iria agüentar, porque não era nenhum bicho de sete cabeças.
Tive auxílio do pai, que me pareceu mais democrático e conversou com a filha, recomendando que ela não poderia mexer a perna para não atrapalhar. Eu reforcei dizendo que se ela mexesse a perna, a agulha poderia quebrar e isso sim seria um problema.
Comecei a aplicar, mas temendo a reação da menina.
A surpresa foi total. Mirna não moveu um músculo sequer, e olha que ninguém a segurou. Manteve-se imóvel durante todo o tempo. Apliquei bem devagar para não doer muito e também para seguir o protocolo.
Quando a menina saiu da farmácia andando, meus colegas não acreditaram que eu já havia terminado, pensaram que a injeção não havia sido aplicada.
Lucinha chegou primeiro. Ela teve que tomar uma série de oito injeções, dia sim dia não, o que durou dezesseis dias. Depois foi a vez de Mirna iniciar uma série de três injeções semanais, o que durou três semanas.
A mãe de Lucinha entrou primeiro na minha sala de injetáveis e pediu que eu preparasse tudo antes da filha entrar, pois não queria que a menina visse a seringa para não se assustar.
Eu nunca fui partidária da idéia de enganar crianças, mas respeitei a vontade da mãe.
Quando Lucinha entrou na sala a mãe não permitiu que ela visse a seringa e a agulha, virou a menina de costas para que eu aplicasse a injeção no bumbum. A mãe deitou a criança em seu colo e abaixou a calcinha da menina para que eu pudesse fazer meu trabalho. Eu pedi para que a mãe fixasse bem as pernas da menina, afinal eu não queria que acontecesse nenhum acidente com a agulha, que pode se quebrar dentro da pele caso a pessoa se agite.
Eu comecei a conversar com Lucinha explicando que não podia se mexer, que ela sentiria uma pequena picadinha, como uma formiga, mas logo ia passar, blá blá blá. Ela pareceu entender.
Pareceu, mas não entendeu. Quando a agulha penetrou na pele ela gritou e esperneou, fez um berreiro tão desproporcional que todos os outros funcionários da farmácia se agitaram.
Enfim, tudo acabou bem, mas faltavam outras sete aplicações...
A criança saiu da farmácia aos berros no colo da mãe.
Todos conheciam a minha capacidade, sempre tive as mãos muito habilidosas. Nenhum paciente reclamava, pelo contrário, todos me elogiavam dizendo que não sentiam nada durante as aplicações, mas Lucinha fez com que todos os meus colegas duvidassem de mim.
Logo depois que Lucinha saiu, chegou Mirna.
Confesso que fiquei bastante traumatizada, mas os outros farmacêuticos se recusaram aplicar injeção na segunda paciente ainda com o escarcéu da anterior ecoando em nossas mentes, de modo que acabei aceitando a incumbência.
Desta vez eu fiz questão de explicar para Mirna como funcionava o processo. Mostrei a injeção, deixei que ela me visse preparando tudo, contei a ela que poderia doer um pouco, mas que ela iria agüentar, porque não era nenhum bicho de sete cabeças.
Tive auxílio do pai, que me pareceu mais democrático e conversou com a filha, recomendando que ela não poderia mexer a perna para não atrapalhar. Eu reforcei dizendo que se ela mexesse a perna, a agulha poderia quebrar e isso sim seria um problema.
Comecei a aplicar, mas temendo a reação da menina.
A surpresa foi total. Mirna não moveu um músculo sequer, e olha que ninguém a segurou. Manteve-se imóvel durante todo o tempo. Apliquei bem devagar para não doer muito e também para seguir o protocolo.
Quando a menina saiu da farmácia andando, meus colegas não acreditaram que eu já havia terminado, pensaram que a injeção não havia sido aplicada.
Nas outras duas doses o comportamento foi o mesmo, calmo e equilibrado.
Já com Lucinha foram dezesseis dias de tensão!
A mãe de Lucinha também veio fazer um tratamento com injetáveis. Desconfio que o que ela queria mesmo era testar minha habilidade como aplicadora, mas acabou confessando que não sentia nada, embora a filha continuasse gritando em sete das oito vezes em que veio tomar injeção comigo. Não havia nada que acalmasse a menina.
No último dia, Lucinha pediu para ver a mãe tomar injeção.
Eu achei bom, a mãe hesitou, mas acabou cedendo. A filha acompanhou tudo com grande curiosidade enquanto eu fazia a aplicação.
Quando chegou sua vez, Lucinha comportou-se como adulta, não se mexeu nem chorou.
Até hoje ninguém entende porque Lucinha gritou tanto das outras vezes, menos na última.
É interessante notar a diferença de comportamento das duas crianças.
Embora eu não seja psicóloga, me atrevo a arriscar uma explicação: a mãe tratava Lucinha como incapaz de processar as dificuldades. Ela agiu exatamente como a mãe esperava que ela agisse e com uma grande dose de exagero.
Já com Mirna foi diferente, o pai confiava nela. O que ela poderia fazer? Merecer a confiança!
Eu aprendi a lidar com crianças (pelo menos com as de cinco anos), com as mães e os pais ainda não, é com eles que sempre acontecem as surpresas.
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Já com Lucinha foram dezesseis dias de tensão!
A mãe de Lucinha também veio fazer um tratamento com injetáveis. Desconfio que o que ela queria mesmo era testar minha habilidade como aplicadora, mas acabou confessando que não sentia nada, embora a filha continuasse gritando em sete das oito vezes em que veio tomar injeção comigo. Não havia nada que acalmasse a menina.
No último dia, Lucinha pediu para ver a mãe tomar injeção.
Eu achei bom, a mãe hesitou, mas acabou cedendo. A filha acompanhou tudo com grande curiosidade enquanto eu fazia a aplicação.
Quando chegou sua vez, Lucinha comportou-se como adulta, não se mexeu nem chorou.
Até hoje ninguém entende porque Lucinha gritou tanto das outras vezes, menos na última.
É interessante notar a diferença de comportamento das duas crianças.
Embora eu não seja psicóloga, me atrevo a arriscar uma explicação: a mãe tratava Lucinha como incapaz de processar as dificuldades. Ela agiu exatamente como a mãe esperava que ela agisse e com uma grande dose de exagero.
Já com Mirna foi diferente, o pai confiava nela. O que ela poderia fazer? Merecer a confiança!
Eu aprendi a lidar com crianças (pelo menos com as de cinco anos), com as mães e os pais ainda não, é com eles que sempre acontecem as surpresas.
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É isso mesmo, não podemos mentir para as crianças, pois depois elas ñ confiam mais em nós.
ResponderExcluirtenho uma filha do oito anos, e desde pequena nunca mentimos sobre injeções e exames e desde cedo ñ nos deu trabalho. Há sempre permiti qdo possível que ela me visse tomar injeções ou colher exames, e sempre a deixei chorar e um tempo após para ela se recompor.
ótima essa historia
ResponderExcluirparabéns pelo blog
Sou partidário da verdade, mentiras na infância são a preparação para adultos mentirosos ou traumatizados.
ResponderExcluiradorei ler seu post , bem interessante
ResponderExcluireu acredito que esse é apenas um de varios exemplos de como os pais influenciam no comportamento de seus filhos .'
é isso ai deve falar,
ResponderExcluira verdade sempe.