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O anônimo botucudo. As travessuras do saci

sábado, 10 de julho de 2010

Folclore brasileiro, o saci é o rei das travessuras. Temos aqui um conto que mostra um pouco de sua história e, também, algumas de suas traquinagens.


by Telma M.
Dizem que os mentirosos contam mentiras.
Deslavada mentira!
Todas as histórias que os mentirosos contam são absolutas verdades! Os outros é que não acreditam, mas são absolutas verdades.
Eu vou contar agora uma história que ouvi de um anônimo morador de uma cidade do interior do Estado de São Paulo: Botucatu.
Há muitos e muitos anos se conhece a fama de ser Botucatu a cidade dos Sacis.

Contam os avós dos avós dos moradores atuais, que lá, certo dia, apareceu um sujeitinho estranho, corpo miúdo, pele negra, apoiava-se numa bengala para compensar a falta de uma das pernas. Usava roupas vermelhas, um boné na cabeça e um cigarrinho de palha no canto da boca.

Exibia o único pé descalço, com dedões inchados e unhas compridas e encardidas. Não trazia bagagens, exceto talvez um livro, sob o braço, já bastante gasto e sujo. Um ou outro morador mais curioso, tentando saber algo sobre o desconhecido, conseguiu ler o nome do autor: Monteiro Lobato. Mais nada.
O estranho perambulou durante alguns dias pela cidade e depois desapareceu. Ninguém mais se lembrava dele quando começaram a acontecer alguns estranhos fatos por toda a cidade.

Pequenos objetos sem muito valor foram desaparecendo aqui e ali pela cidade. No princípio foi um morador da fazenda Lajeado quem deu pela falta do seu cachimbo. Logo depois sua mulher perdeu o pé esquerdo do chinelo.
Mais alguns dias se passaram e outro trabalhador da fazendo não conseguiu encontrar a enxada que acabara de amolar no dia anterior.

Pouco dias depois foi a vez da dona da fazenda perder uma de suas agulhas de tricô.
Não demorou muito para que todos os moradores das redondezas reclamassem de objetos desaparecidos. Não eram coisas importantes, mas era intrigante saber que apenas uma das agulhas havia desaparecido. 

Parecia claro que não era um ladrão, pois que ladrão levaria apenas um pé de chinelo ou uma agulha de tricô? Porque não o par? Além do mais, ninguém havia perdido objetos de valor, como as jóias da dona da fazenda ou o dinheiro debaixo do colchão de seu marido. Nem desapareciam grandes objetos, como o trator novinho em folha comprado há poucos dias.

Era interessante notar que os objetos começaram a desaparecer de locais mais distantes da fazenda. Agora já havia gente reclamando de perder coisas lá no Rubião ou no centro da cidade. Foi então que alguém disse ter visto um sujeito perneta de roupas vermelhas próximo da casa de onde sumira um chaveiro, todo quebrado, é verdade, mas tinha dono.

Essa informação bastou para que outra pessoa se lembrasse do estranho que haviam visto chegar há poucos dias.
Dona Eulália, a avó de Cidinha, que morava atrás da igreja matriz, gostava muito de ler histórias para a neta dormir. Lia muitos livros de Monteiro Lobato para a menina. Foi ela quem se lembrou do Saci Pererê. Só podia ser ele. O Saci era um diabinho que nascera nos livros das aventuras de Narizinho, Visconde de Sabugosa, a boneca Emília, Dona Benta... personagens do Sítio do Pica-pau amarelo, de Monteiro Lobato.

O Saci roubava objetos das pessoas só para ter o prazer de vê-las irritadas. Se vocês ficaram curiosos, procurem os livros desse grande escritor e leiam as histórias maravilhosas que ele contava. Bem, mas nós não estamos aqui para fazer propaganda dos livros de Monteiro Lobato, nós estamos aqui para contar mentiras, digo, contar verdades que as pessoas dizem que são mentiras.

Logo depois que descobriram que era o Saci o responsável pelos objetos desaparecidos foi que descobriram que ele havia se instalado na fazenda Lajeado em Botucatu. Ele formou um ninho de Sacis. É lá em Botucatu que existe a maior comunidade de Sacis do mundo, quiçá do Planeta e, porque não dizer, do Universo.
Os prefeitos, uns atrás dos outros, destinaram enormes quantias em dinheiro do município para preservar os Sacis do Lajeado. Dizem até que eles são protegidos, os Sacis, não os prefeitos.

Reza a lenda que toda criança que nasce em Botucatu recebe um filhote para cuidar e formar sua própria criação de Sacis. Poucos conseguem perseverar nesse ramo, tendo em vista a enorme maldade dos diabinhos, que podem levar seus proprietários à loucura. Aliás, ninguém conhece ninguém que tenha conseguido criar um saci por muito tempo. Eles são espertos e fogem para o Lajeado e ninguém mais consegue recapturá-los.

O meu filho passou no vestibular e foi para a faculdade em Botucatu, para onde se mudou. Um dia ele voltou para São Paulo trazendo na mala um desses monstrinhos malvados. Disse que resolvera tentar a sorte e criar Sacis. Foi um horror. O pestinha deve ter escapado da gaiola e foi uma semana infernal dentro da minha casa. Sumiram muitos objetos. As coisas desapareciam numa velocidade espantosa. Nós ficávamos mais tempo procurando as coisas do que fazendo qualquer outra coisa.

O namorado da minha filha nasceu em Botucatu. Embora ele não tenha conseguido criar o Saci que recebeu ao nascer, acredito que o safado (o Saci, não o namorado) vive meio grudado no namorado (namorado da minha filha, não namorado do Saci), pois quando ele vem nos visitar sempre desaparece algum objeto... (claro que não é o namorado quem some com os objetos, é o Saci que vive grudado nele.)

Outro dia desapareceu uma pecinha do celular que o namorado da minha filha deu de presente para ela. Nós todos ficamos durante horas procurando a tal pecinha. Ninguém conseguia entender como havia desaparecido aquilo. Mas bastou nós nos lembrarmos do Saci que entendemos perfeitamente os desaparecimentos. Dentro da minha casa haviam dois Sacis: O Saci que meu filho trouxe na mala e o Saci que vive grudado no namorado da minha filha. Tenho certeza que os dois Sacis se uniram para nos enlouquecer.

Meu medo é que eles procriem. Se forem macho e fêmea... Será que é como coelhos e ratos? Eu não sei muito sobre o ciclo reprodutivo dos Sacis. Vou pesquisar no Google.
Resumo: histórias de saci, histórias de interior, contos folclóricos, contos de Botucatu, lendas de saci, contos do vovô

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3 comentários:

  1. Será que eles são apenas uma personificação do estado perceptivo da Maconha? Por que são tão ligados a natureza? Por que gostam de fumar e rir a toa? Por que gostam de travessuras? Enfim, se essa mentira for menos mentira doque dizem, seria uma verdade bem interessante. Mas que ele fuma maconha é fato.

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