AD Sense assíncrono

O Bule Despedaçado. Como colar os cacos?

quinta-feira, 31 de março de 2011


by Telma M.
Depois de ter lido uma história na rede eu me lembrei de algo que ocorreu comigo há não muito tempo atrás relacionado com um bule de valor incalculável.
Trata-se do bule que minha mãe me deixou de herança.
Desde menininha eu admirava aquele jogo de chá de porcelana chinesa. Minha mãe jamais deixou que eu colocasse meus dedinhos estabanados naquelas peças delicadas. Eram dez peças brancas, com arabescos azuis e detalhes em dourado. 

O jogo de chá era tão delicado que mais parecia feito de papel, de tão fininhas as paredes das xícaras.
Eu fico imaginando que se minha mãe tivesse permitido que eu pegasse aquelas xícaras, se não as quebrasse com as mãos, certamente as quebraria com os dentes ao tomar o chá.

Não fiquem imaginando que éramos milionários por possuirmos um serviço de chá tão fino quanto aquele, não, nada disso. Éramos pobres, muito pobres, pobres a ponto de contarmos o número de bifes que iríamos comer na semana. Pobres a ponto de aguardarmos ansiosos a chegada do Natal, só para podermos comer pudim de leite condensado. Pobres a ponto de dividirmos uma maçã em cinco, para todos poderem experimentar.

Meus pais ganharam o tal serviço de chá de porcelana chinesa do chefe de meu pai, de presente de casamento, e por isso minha mãe o guardava com tanto carinho e cuidado.
Durante minha infância eu sonhava em tomar chá naquelas xícaras. Havia um bule pequeno e outro grande, havia um açucareiro e um pote de manteiga e havia meia dúzia de xícaras com seus respectivos pires. Pronto, dez peças encantadas. Sabem como é a imaginação infantil? Tudo parece uma fantasia, principalmente se for proibido.

Bem, o tempo passou, minha mãe se foi e o jogo de chá ficou. Durante a partilha dos poucos objetos deixados por ela, entre mim e os meus irmãos, coube a mim o jogo de chá de porcelana chinesa.
Nem é preciso descrever o brilho do meu olhar, nem a intensidade das batidas do meu coração ao desembrulhar as peças, já em minha casa.

Pois não é que eu derrubei o bule?
Se quebrou? Imaginem, quebrou em oitocentos e cinqüenta pedaços.
Se chorei? Imaginem, berrei, esperneei, estremeci, arranquei tufos de cabelo.

Meu marido se assustou. No princípio pensou que eu tivesse levado um tombo e tentou me levantar do chão onde eu estava sentada chorando. Depois entendeu.
Viu que era loucura.

Enquanto eu lentamente me acalmava, ele silenciosamente recolheu todos os cacos e começou a colar um a um com cola instantânea.
E agora? Como colar os cacos em que se transformou meu coração?
 
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2 comentários:

  1. Oi minha amiga!!!

    Linda sua estória... difícil agora é colar o coração... as lembranças da infância e de sua mãezinha... também tenho um jogo de chá que era da minha mãe e ao ler seu texto fiquei muito emocionada, pois parecia que estava vivendo cada palavra...

    Beijos minha querida!!!
    Uma excelente semana!!
    Lu

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  2. Telminha, minha linda!
    Que história mais encantadora e emocionante... Imagino, sim, amiga, nos oitocentos e cinquenta pedaços... Imagino o seu coração em pedaços... Mas, posso te dizer uma coisa? Lembra do assunto sobre ciclos? Algumas vezes, quando não aceitamos o seu final eles precisam ser quebrados para que tenhamos um novo recomeço... As lembranças permanecem e elas nunca são quebradas. No final das contas, mesmo que tenha doído em você por fazer parte do seu passado, era apenas um bule...o que restou intacto aí dentro foram os sentimentos...e as lembranças de um tempo vivido. Novos tempos chegam e pedem passagem...
    Grande beijo, minha linda! Parabéns pelo lindo post!!
    Jackie

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